iniciar
Mateo Villa: "A verificação de identidade e o compliance são fundamentais para eliminar mitos do mundo cripto"
Notícias DiditMarch 14, 2025

Mateo Villa: "A verificação de identidade e o compliance são fundamentais para eliminar mitos do mundo cripto"

#network
#Identity

Índice

Mateo Villa é KYC Analyst numa das exchanges centralizadas mais importantes a nível mundial. Com mais de 250 milhões de utilizadores espalhados por todo o mundo, entre as funções de Mateo encontra-se a análise minuciosa daqueles casos que exigem uma revisão manual, seja por deficiências na leitura dos documentos ou por problemas durante a fase de reconhecimento facial.

"É fundamental quebrar a ideia de que o setor cripto está relacionado com operações ilegais", afirma, enquanto destaca "a rastreabilidade e a transparência da blockchain" em comparação com outros sistemas tradicionais.

Pergunta: Poderia contar-nos brevemente o seu percurso profissional e como chegou a especializar-se na área de verificação de identidade desta importante exchange?

Resposta: Entrei inicialmente para uma posição de apoio ao cliente, onde me dedicava a resolver problemas com a plataforma. Com o tempo, foram surgindo novas vagas e, como sempre procuro crescer e aprender, interessei-me imenso pela área da verificação de identidade. Se pensarmos numa entidade financeira tradicional, este é um processo crucial para aceder a qualquer produto ou serviço; no entanto, nas plataformas digitais não contamos com a presença física do cliente para confirmar quem é na realidade. Essa necessidade de assegurar a identidade dos utilizadores de forma objetiva foi o que me chamou a atenção. Fiz a minha candidatura, comecei uma formação intensiva e fiquei fascinado por descobrir a diversidade de documentos, características e métodos de verificação que existem a nível global. Além disso, contribuir para que as transações sejam cada vez mais seguras dentro do setor cripto pareceu-me extremamente interessante e motivador.

P: Como é realizado o processo de verificação de identidade na sua empresa? É totalmente manual ou apoia-se em sistemas automatizados?

R: O processo de onboarding começa com uma verificação automática, realizada por ferramentas externas ou desenvolvidas internamente, que analisam a validade e legibilidade do documento, bem como a correspondência entre a fotografia e os dados. Se essa verificação inicial encontra algo duvidoso (por exemplo, se o documento não está nítido, se a fotografia não corresponde ou se certos dados não podem ser lidos corretamente), o caso passa para um analista para fazer uma verificação manual detalhada. Desta forma, garantimos que mesmo as situações mais complexas são resolvidas de modo preciso e fiável.

P: Com base na sua experiência, quais diria que são os maiores desafios na verificação da identidade e, de passagem, nos processos de prevenção de branqueamento de capitais (AML)?

R: Antes de mais, acho que é importante quebrar a ideia que relaciona o setor cripto com operações ilegais ou pouco fiáveis. Na realidade, ao trabalhar com criptomoedas existe uma rastreabilidade e transparência que nem sempre os bancos tradicionais oferecem. No entanto, temos de demonstrar que as transações são realizadas de forma segura e que os fundos provêm de fontes legítimas. Assim, tanto os utilizadores como as entidades reguladoras confiam que estão a ser cumpridas as normas e procedimentos corretos. Nesse sentido, lidar com documentos de diferentes países, vários idiomas e a possível falsificação de ficheiros são desafios constantes. A nossa função principal é garantir que o utilizador é realmente quem diz ser e que os fundos têm uma origem lícita.

P: Para além da verificação de documentos, existem outras ferramentas ou processos que vos ajudem a monitorizar as transações e garantir a sua legitimidade?

R: Sim. Na exchange (e na maioria das plataformas sérias) existem mecanismos automatizados que detetam movimentos invulgares de fundos. Se um utilizador costuma movimentar, por exemplo, 10.000 euros por mês e de repente deposita ou levanta 50.000, o sistema gera um alerta que a equipa deve analisar. O mesmo acontece com endereços cripto que foram anteriormente denunciados por atividades suspeitas. Por vezes, estes casos resolvem-se sem problemas, mas noutros é pedido ao utilizador que justifique a origem dos fundos. Isto é essencial para cumprir com as normativas e demonstrar que as operações são totalmente legais.

P: Então, definem diferentes perfis de risco e analisam as operações em função destes perfis?

R: Exatamente. Quando um novo utilizador regista um volume muito elevado de forma repentina, ou quando um cliente habitual apresenta um comportamento transacional fora do comum, é ativada a verificação manual. Também influenciam as regulamentações do país onde a pessoa reside. Por vezes, o utilizador pode ficar aborrecido porque sente que estamos a duvidar dele, mas existem diretrizes legais que temos de seguir para preservar a segurança de todos.

P: Quais considera serem os principais obstáculos no desempenho do vosso trabalho, especialmente tendo um volume de utilizadores tão grande e tão diverso?

R: Principalmente, o idioma e a variedade de documentos. Embora internamente usemos inglês, por vezes chegam-nos utilizadores da China, Médio Oriente ou África, e cada país tem os seus próprios formatos e requisitos. Além disso, a validação de fundos num processo de prevenção de branqueamento varia imenso de um país para outro. Em alguns sítios, basta a declaração de IRS; noutros, é pedido um certificado bancário ou um registo de transações. Por último, a falsificação de documentos é algo contra o qual lutamos diariamente: temos de distinguir entre documentos provisórios, alterados ou com dados manipulados. Felizmente, contamos com bases de dados globais e tecnologia que nos facilita a deteção e a validação.

P: Como gerem a entrada de dinheiro proveniente de outras plataformas e o que acontece se as normativas mudarem repentinamente?

R: Quando o sistema identifica um movimento suspeito (ou superior ao habitual) proveniente de outra plataforma, é ativado um controlo adicional. É aí que o utilizador deve demonstrar que esses fundos têm uma origem lícita, por exemplo, fornecendo extratos da plataforma de onde provêm. Relativamente às alterações normativas, estas não se aplicam de um dia para o outro. Primeiro recebemos a notificação, são atualizados os procedimentos, somos formados e depois passamos por avaliações para validar que conhecemos as novas normas. Só assim são implementadas oficialmente essas alterações.

P: Como descreveria um dia típico no seu trabalho?

R: É um fluxo que depende muito da área em que estás especializado. No início, formamo-nos na validação de documentos básicos: cartão de cidadão, passaportes, cartas de condução... Uma vez dominado isso, passamos para temas mais complexos, como a revisão de transações invulgares ou a justificação da origem dos fundos. Um dia normal implica analisar perfis que são sinalizados por diferentes motivos: documentos que não cumprem os requisitos, quantias de dinheiro fora do normal, discrepâncias entre os dados registados e o histórico do utilizador... Também há bastante interação com as pessoas: é necessário pedir-lhes documentação adicional ou esclarecer dúvidas, sempre procurando o equilíbrio entre ser empático e manter o rigor do processo.

P: Qual a importância do cumprimento normativo (compliance) dentro deste ecossistema?

R: Considero-o fundamental, não só para cumprir com a lei, mas também por questões de reputação. Muitas pessoas continuam a ver o mundo cripto com desconfiança, e a melhor forma de gerar confiança é demonstrando que contamos com sistemas de prevenção de fraude e segurança ao nível de qualquer entidade tradicional. Nos dias de hoje, a adoção das criptomoedas é imparável; estão a tornar-se um meio de pagamento e poupança cada vez mais comum. Por isso, o compliance é essencial para transmitir tranquilidade aos utilizadores e aos reguladores.

P: Como vê as tentativas de harmonização normativa em diferentes jurisdições? Por vezes parece complicado unificar critérios sendo tantos países...

R: É complexo, porque cada país tem os seus próprios documentos de identificação e quadros regulamentares. No entanto, fala-se cada vez mais em criar uma base ou padrão universal que permita validar a identidade e os fundos das pessoas de forma homogénea. Isso dificultaria bastante a vida aos burlões e geraria uma maior sensação de segurança. Acredito que, embora seja um processo lento e exigente, todo o ecossistema caminha para uma regulamentação mais consistente a nível global.

P: Considera que as últimas regulamentações ou a subida do valor de algumas criptomoedas estão a atrair mais utilizadores para o ecossistema?

R: Na minha opinião, o aumento de utilizadores não está tão ligado à regulamentação como ao próprio interesse das pessoas em investir e adotar novas tecnologias. Muitos já não se aproximam do cripto por curiosidade, mas por necessidade: há áreas e serviços onde só se pode pagar com ativos digitais. Portanto, pouco a pouco, está a integrar-se na vida quotidiana. É certo que as regulamentações proporcionam um quadro de proteção que faz com que o público se sinta mais seguro.

P: Qual é a sua visão de futuro para o mundo cripto e os seus processos de verificação?

R: Acredito firmemente que a adoção continuará a crescer. Em alguns países, já é utilizada de forma massiva; noutros, irá desenvolver-se com o tempo. O nosso papel consiste em garantir que essa expansão seja segura, legal e fiável para qualquer pessoa e para as próprias autoridades. Vamos continuar a melhorar a tecnologia e os métodos de verificação, independentemente do volume de utilizadores ou de transações. Quanto mais pessoas entrarem no ecossistema, maior será a responsabilidade das plataformas e de quem trabalha nesta área para que tudo funcione de forma ordenada, transparente e segura.

Bloco de Autor - Víctor Navarro
Foto de Víctor Navarro

Sobre o autor

Víctor Navarro
Especialista em identidade digital e comunicação

Sou Víctor Navarro, com mais de 15 anos de experiência em marketing digital e SEO. Sou apaixonado por tecnologia e como ela pode transformar o setor de identidade digital. Na Didit, uma empresa de inteligência artificial especializada em identidade, educo e explico como a IA pode melhorar processos críticos como KYC e conformidade regulatória. Meu objetivo é humanizar a internet na era da inteligência artificial, oferecendo soluções acessíveis e eficientes para as pessoas.

"Humanizing internet na era da IA"
Para consultas profissionais, contacte-me em victor.navarro@didit.me

Notícias Didit

Mateo Villa: "A verificação de identidade e o compliance são fundamentais para eliminar mitos do mundo cripto"

PRONTO PARA COMEÇAR?

Privacidade.

Detalhe suas expectativas e nós as atenderemos com a nossa melhor solução

Fale conosco!