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Pietro Odorisio é um consultor especializado em Anti-Money Laundering (AML), dedicado à conformidade regulatória e à prevenção de crimes financeiros. A sua trajetória profissional combina conhecimento académico e experiência prática, posicionando-o como uma referência no campo da integridade financeira.
Com um sólido percurso em filosofia política e ética empresarial, Odorisio destacou-se como um estratega capaz de transformar desafios regulatórios complexos em soluções eficazes. “A lavagem de dinheiro é um veneno para a economia e as finanças, causando grandes perturbações sociais e desestabilizando setores inteiros”, afirma.
O que o motivou a especializar-se em conformidade regulatória e prevenção da lavagem de dinheiro? Fale-nos sobre o seu percurso profissional e sobre aquilo que o apaixona nesta área.
A minha experiência nesta área surge do desejo de combinar a minha formação académica em filosofia política e ética empresarial com um papel que tivesse um impacto real no combate a atividades financeiras ilícitas. Ao longo da minha carreira, desenvolvi competências específicas na implementação e utilização de ferramentas tecnológicas avançadas para controlo AML, na atualização de bases de dados dedicadas e na formação e apoio a clientes. O que me motiva é o desafio de contribuir para um sistema económico mais transparente e seguro.
De que forma tecnologias como inteligência artificial e machine learning estão a transformar os processos de deteção de riscos em KYC e AML? Quais são as ferramentas mais inovadoras com que já trabalhou?
A introdução de tecnologias como inteligência artificial e machine learning revolucionou o setor AML, melhorando significativamente a capacidade de análise de grandes volumes de dados e a deteção de padrões suspeitos. Trabalhei com plataformas que integram algoritmos avançados para triagem e monitorização, o que permitiu aumentar a eficiência e reduzir os falsos positivos. Estas ferramentas ajudam as instituições a otimizar os processos de verificação, garantindo maior precisão e eficácia.
No contexto internacional, que diferenças observa entre os modelos de conformidade em diferentes regiões da Europa? Como essas variações afetam as estratégias globais de negócio?
Embora as regulamentações europeias sigam um quadro comum, cada país introduz variações significativas que podem representar desafios para empresas multinacionais. Algumas jurisdições aplicam as regras de KYC de forma mais rigorosa do que outras, o que exige abordagens personalizadas para garantir conformidade sem comprometer a eficiência operacional.
Com base na sua experiência, quais são os principais sinais de alerta para a deteção de transações suspeitas? Como devem as empresas reagir de forma eficaz?
Os principais sinais de alerta incluem:
As empresas devem responder a estas ameaças através da combinação de tecnologias avançadas de monitorização e equipas especializadas capazes de analisar rapidamente anomalias e tomar medidas adequadas em tempo útil.
Aqui está uma pergunta que colocámos a outros entrevistados: é possível ser um profissional de conformidade eficaz sem tecnologia?
Acredito que a tecnologia se tornou indispensável para lidar com a complexidade da conformidade moderna. Permite reduzir o tempo e o esforço necessários para tarefas rotineiras e possibilita uma gestão mais eficiente das análises, que, apesar de simples para um profissional, podem tornar-se esmagadoras devido ao grande volume de informação e processos envolvidos. Os sistemas inovadores eliminam desperdícios de tempo e esforço, permitindo que os profissionais se concentrem nas análises que ainda exigem julgamento humano, responsabilidade e compromisso. A tecnologia complementa, mas não substitui, a importância da experiência e das capacidades humanas.
Como se pode equilibrar um processo KYC rigoroso com uma experiência do utilizador fluida e sem fricção?
A chave está na adoção de uma abordagem dupla: por um lado, os profissionais devem tornar o processo KYC o menos intrusivo possível, utilizando tecnologias avançadas e procedimentos simplificados para minimizar o impacto na experiência do utilizador. Por outro, as instituições devem educar os clientes sobre a importância destes controlos, demonstrando que o KYC não é uma invasão de privacidade ou uma limitação da liberdade, mas sim um mecanismo essencial para garantir a integridade do sistema financeiro.
A lavagem de dinheiro é um veneno para a economia e para as finanças, causando grandes perturbações sociais e desestabilizando setores inteiros. Os processos KYC devem, portanto, ser vistos como uma ferramenta de proteção tanto para os indivíduos como para o sistema económico em geral, ajudando a combater atividades criminosas. Criar esta consciencialização pode transformar a conformidade regulatória numa responsabilidade partilhada e significativa.
Na sua opinião, quais são os setores – tanto emergentes (blockchain, cripto) como tradicionais (imobiliário, seguros) – mais vulneráveis à lavagem de dinheiro?
Os setores tradicionais, como a banca, os seguros e os jogos de azar, sempre foram considerados de alto risco para a lavagem de dinheiro. No entanto, são também os mais preparados para combatê-la, como demonstra o crescente número de relatórios de transações suspeitas.
Por outro lado, existem novas áreas, não estritamente financeiras, que ainda não têm regulamentação suficiente ou que resistem à adoção de medidas preventivas. Por exemplo, profissões jurídicas e contabilísticas, como advogados e contabilistas, muitas vezes abordam estas questões com alguma relutância. Além disso, setores como o entretenimento, o cinema e o desporto lidam com fluxos financeiros avultados e difíceis de rastrear, tornando-se alvos vulneráveis. Estas áreas exigem maior monitorização e uma maior consciencialização sobre a importância da adoção de medidas preventivas eficazes.
Um entrevistado anterior afirmou que a aprendizagem contínua é fundamental para um Compliance Officer. Concorda?
Sem dúvida. Num ambiente regulatório em constante evolução, a aprendizagem contínua é essencial para um Compliance Officer. Vejo isso diariamente: praticamente todos os dias, as regulamentações de diferentes países são atualizadas para responder a novos desafios.
Existem diversas fontes de atualização que devem ser continuamente monitorizadas, como as diretrizes de organizações supranacionais, as recomendações do Grupo Wolfsberg e do GAFI, e publicações de think tanks relevantes. Além disso, os documentos e atividades das Unidades de Informação Financeira (FIUs) de cada país são recursos essenciais. Sem formação contínua, seria impossível adaptar-se rapidamente às mudanças e implementar as melhores práticas de forma eficaz.
Que conselhos daria às instituições para desenvolverem uma verdadeira cultura de conformidade regulatória que vá além da mera obrigação legal?
É fundamental que a conformidade seja percebida como um valor estratégico e não apenas como um requisito legal. Para isso, as instituições devem investir em formação contínua, promover uma comunicação interna clara e adotar uma abordagem proativa na gestão de riscos.
Além disso, as empresas precisam de melhorar a comunicação externa, destacando as intervenções e os resultados obtidos através do cumprimento regulatório. A apresentação de dados precisos e atualizados sobre os avanços e sucessos nesta área pode tornar mais visível a importância destas atividades. Uma comunicação eficaz não só aumenta a consciencialização entre os profissionais, como também promove uma maior compreensão por parte da sociedade, transformando a conformidade num valor partilhado e reconhecido.
Olhando para o futuro, para onde caminha o KYC nos próximos 5-10 anos? Que tendências emergentes prevê?
Prevejo um aumento da automatização e a integração de tecnologias avançadas, como inteligência artificial e blockchain, para garantir maior segurança, transparência e eficiência nos processos KYC. A utilização de identidades digitais e análises preditivas poderá agilizar ainda mais os procedimentos, reduzindo os tempos de espera e melhorando os resultados operacionais.
No entanto, é importante lembrar que a tecnologia, apesar de essencial e transformadora, nunca substituirá totalmente a intervenção humana. A responsabilidade final pelas decisões tomadas nos processos de conformidade e combate à lavagem de dinheiro continuará a ser dos profissionais.
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