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Título: Enrique Palacios: "Ter uma visão 'compliance first' oferece uma grande vantagem competitiva"
Notícias DiditFebruary 18, 2025

Título: Enrique Palacios: "Ter uma visão 'compliance first' oferece uma grande vantagem competitiva"

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Enrique Palacios é Head of Compliance & Legal na Bit2me Security Token Exchange. Economista de formação, com experiência internacional no setor bancário e na consultoria de projetos de blockchain, ele atuou nos últimos anos na área de Compliance e Fincrime da Onyze e colaborou com a EBA (European Banking Authority) em temas como a prevenção de lavagem de dinheiro com criptoativos, incluindo a Travel Rule.

"Formação contínua é fundamental", afirma Palacios, que também defende a importância de existir um "consórcio na indústria na Espanha para termos presença em vários níveis junto às diferentes instituições europeias".

Pergunta: Como é que um economista acaba se especializando em compliance e na prevenção de crimes financeiros no setor de criptomoedas?

Essa é uma ótima pergunta. Sou formado em Economia, mas fui me aprofundando nessa área de forma gradual. Atuei em diversos cargos no setor bancário e trabalhei em diferentes mercados. Hoje, sou Compliance Officer graças ao meu conhecimento do mercado e do produto. Quando entrei na Onyze, tudo ainda estava para ser definido. O que mais me motivava era a área de compliance e a prevenção de lavagem de dinheiro, pois eu podia aplicar minha experiência em compliance bancário adquirida durante o período em que fui diretor de investimentos na Irlanda. Eu atendia aos requisitos que as diretrizes da EBA exigem, somados a uma comunicação clara, um forte engajamento com o regulador e um conhecimento profundo da indústria.

Minha curiosidade pelo novo e o desejo de me manter atualizado sobre a regulação, tanto do setor financeiro tradicional quanto do universo cripto, também foram fatores decisivos. Quando praticamente tudo estava em aberto, definir um padrão regulatório se tornou extremamente atraente, principalmente vindo de uma indústria altamente regulada. É empolgante e inspirador poder contribuir para a criação dessa primeira camada normativa, atuando em diversos comitês ao lado dos reguladores. Em resumo, o domínio da tecnologia e dos novos modelos de negócios financeiros, aliado ao conhecimento da regulação tradicional, me fez especializar nessa área, que considero vital para a escalabilidade do setor, para gerar confiança junto às instituições e para oferecer serviços financeiros baseados em tecnologia blockchain.

Pergunta: Você colaborou com a EBA (European Banking Authority): como foi essa experiência?

Foi simplesmente espetacular. Para mim, ter conseguido, vindo de uma startup, participar do processo seletivo da EBA e ser escolhido para contribuir, foi um marco. Relaciono essa experiência com a primeira pergunta: exigiam conhecimentos em tecnologia blockchain, criptoativos e experiência bancária, e eu pensei: "por que não, posso encaixar". E assim aconteceu. Acredito que fazer parte de um comitê europeu, assessorando sobre como adaptar a regulação de fundos ao universo cripto — a famosa Travel Rule — foi uma experiência excepcional, principalmente por ver de perto como esses organismos operam e constatar o nível de talento e conhecimento dedicado aos novos serviços financeiros.

Ter a chance de trocar ideias e debater com outros profissionais do setor e com reguladores de diferentes países foi incrível. Nunca havia participado de um comitê desse porte. Discutir temas tão importantes, como o regulamento de transferência de fundos na Europa e a prevenção de lavagem de dinheiro no ambiente cripto, onde sua opinião é valorizada por estar em contato direto com o usuário e observar o impacto prático da regulação, é algo de extrema relevância. Isso reforça a importância de termos um consórcio na indústria, que em Espanha se faz necessário para garantir uma presença multinível junto às instituições europeias, especialmente em tecnologias emergentes e serviços que vão competir em nível global.

Pergunta: Na Onyze, sua última experiência profissional, vocês implementavam os controles de Conheça Seu Cliente (KYC) e de prevenção à lavagem de dinheiro (AML) antes mesmo de serem obrigatórios. Quais são as vantagens de estar um passo à frente da regulação?

Para responder, vou voltar um pouco no tempo. Formar um time com uma tecnologia inovadora — um grupo jovem e multidisciplinar composto por criminologistas, advogados e economistas —, mesmo com pouca experiência em setores fortemente regulados, mas que compartilhava o conhecimento sobre blockchain e criptomoedas, foi uma enorme vantagem para avançar e evoluir rapidamente assim que a regulação chegasse. Vou explicar: ao entrar de cabeça em um setor regulado, você se depara com barreiras difíceis de transpor. Já quando trabalha com pessoas que têm liberdade para agir, mesmo sabendo que a regulação virá, é possível progredir muito mais rápido. Nosso time atuou sem amarras desde o início e, com o tempo, foi alinhando a teoria com a prática.

Por isso, a filosofia "compliance first" permite a implementação de ferramentas tecnológicas desde o começo, que podem ser ajustadas e adaptadas ao longo do tempo. Por exemplo, em um banco, sabemos que mudar uma infraestrutura regulatória é complexo e caro. Mas, com uma mentalidade ágil e modular, típica das startups, você ganha a capacidade de se adaptar às mudanças. Ter habilidades técnicas e uma flexibilidade modular frente à regulação é essencial e garante uma vantagem competitiva clara. Nos últimos anos, vimos empresas de tecnologia que, por não possuírem essa consciência regulatória e agirem de forma reativa, tiveram enormes dificuldades para se adaptar a novas regras. Em alguns países, como na Estônia, muitos projetos precisaram fechar as portas. Assim, a visão "compliance first" se mostrou extremamente benéfica, mesmo não sendo comum no setor cripto ou na banca tradicional, e nos proporcionou uma grande vantagem desde o início.

Pergunta: Quais são os principais aspectos que as empresas cripto devem considerar para atender aos novos requisitos regulatórios na Espanha?

É crucial ter um conhecimento profundo tanto do produto quanto da tecnologia. Um profissional de compliance nesse setor não precisa apenas dominar a regulação. Estamos testemunhando uma migração de talentos, vindos do campo do compliance tradicional para o universo tecnológico, e essa transição é complexa, pois há conceitos regulatórios que só são plenamente compreendidos quando se domina a tecnologia e se aplica a normativa de forma adequada. Por exemplo, se você entende de blockchain e do conceito de flash loan — um empréstimo instantâneo que só é executado se certos parâmetros não forem violados —, explicar isso para alguém com formação estritamente regulatória pode ser um grande desafio. Existem muitos casos semelhantes, já que inúmeros produtos e serviços tokenizados podem ser implementados utilizando a tecnologia blockchain. Um exemplo é o Didit, o produto de vocês, que se mostra bastante transversal.

Com normativas futuras, como a MiCA, será essencial que os membros dos conselhos de administração tenham conhecimentos e experiência nesse campo. Como hoje é complicado encontrar profissionais que reúnam todas essas competências, é indispensável compensar essa lacuna com capacitação, o que explica a crescente oferta de programas especializados.

Pergunta: Quais são as melhores práticas para implementar um processo de KYC e AML?

Primeiramente, é fundamental ter clareza sobre o modelo de negócio. Não é a mesma coisa um modelo B2B, voltado para empresas, que um B2C, direcionado ao consumidor final. Você precisa definir isso com precisão e determinar se você é um sujeito obrigado ou se irá interagir com sujeitos obrigados, como será realizado o processo de onboarding, se haverá conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), entre outros aspectos.

Em segundo lugar, você deve decidir se o processo será gerenciado internamente, se vai contar com fornecedores externos ou se optará por uma estratégia mista, como fizemos na Onyze.

Tudo depende da visão estratégica do produto. Você quer gerenciar internamente e investir para não depender de terceiros ou prefere terceirizar? Isso nos leva à terceira consideração: conhecer bem os fornecedores. É fundamental pesquisar o mercado em áreas como identidade digital, análises de blockchain, e soluções de screening. Além disso, é vital identificar e gerenciar os riscos. Fala-se muito em AML e na prevenção de lavagem de dinheiro, mas a mitigação de riscos no universo cripto vai além. Entender e tratar esses riscos de forma proativa, tanto em processos internos quanto externos, é essencial.

Pergunta: Entendo que a tecnologia desempenha um papel fundamental. É possível ser compliant sem ela? Os processos são melhores ou piores?

É possível ter vocação para o compliance, mas em um setor tão tecnológico isso se torna muito complexo. Sempre se diz que os profissionais de compliance devem ter autonomia, independência, contar com o apoio da alta direção e ter recursos adequados; contudo, muitos afirmam que nem sempre recebem o suporte necessário. Para mim, quando você inicia um negócio ou projeto do zero, o compliance precisa caminhar lado a lado com o modelo de negócio. Se o negócio não funciona, as coisas ficam complicadas, mas não encaro o compliance como um mero departamento de suporte (como muitas vezes é visto pela diretoria), e sim como uma parte fundamental do negócio. Um bom compliance pode posicionar sua empresa com vantagem em setores com tecnologias altamente inovadoras, onde a regulação ainda está em desenvolvimento, como é o caso da blockchain ou da inteligência artificial. Porém, sem ferramentas tecnológicas, tudo fica mais difícil, especialmente no universo cripto. Muitas vezes, você precisará de uma ferramenta robusta que identifique riscos em transações e carteiras, que forneça dados confiáveis e esteja em conformidade com as normas de prevenção à lavagem de dinheiro, transferência de fundos e proteção de dados. Sem isso, é complicado.

Pergunta: Já falamos muito sobre normas e regulamentos… mas como os processos de compliance impactam a experiência do usuário?

Aí surge a clássica dicotomia entre inovação e regulação, e como esses dois elementos precisam andar juntos. O ideal é adotar uma abordagem "compliance first" que evolua em paralelo com a inovação. Embora seja difícil prever todos os cenários, o objetivo é evitar processos burocráticos, como autenticações duplas ou a necessidade de solicitar dados repetidamente. Por isso, contar com uma tecnologia que torne o processo mais fluido é fundamental. Acredito que o Didit pode contribuir significativamente para melhorar a experiência do usuário, pois está em conformidade com o eIDAS e outras regulamentações que reforçam a não solicitação desnecessária de dados.

Além disso, é importante garantir que os fornecedores cumpram com o GDPR e com a Lei Geral de Proteção de Dados, conhecendo como as informações são armazenadas e transferidas, ou se os dados ficam centralizados em um único repositório. Por exemplo, a Lei 10/2010 permite determinadas exceções, embora, no caso dos bancos, essa informação nem sempre seja disponibilizada. Em suma, é preciso buscar um equilíbrio, já que uma experiência ruim pode levar à perda de clientes.

Pergunta: Com a MiCA prestes a entrar em vigor, quais são os principais desafios para o setor cripto na Europa?

Com a MiCA, o setor se profissionaliza. São estabelecidos padrões para provedores e emissores, os serviços que podem ser oferecidos são normalizados e aqueles que não são permitidos ficam definidos, evitando problemas jurídicos, como os que ocorrem nos Estados Unidos. A regulação obriga ao cumprimento das leis de prevenção à lavagem de dinheiro e de mercado, exigindo licenças para que os provedores possam operar. Para quem está há anos no setor, era muito difícil estabelecer relações com instituições financeiras sem uma licença regulatória; tê-la se tornou um passo fundamental. Além disso, do ponto de vista do consumidor, a nova regulação traz mais proteção, o que é crucial diante do número de fraudes ocorridas no universo cripto.

A MiCA também abre a possibilidade de operar em todos os países membros da União Europeia. Com uma licença nacional, você poderá oferecer seus serviços em toda a região. Em resumo, acredito que isso vai revolucionar o setor. Antes, se você queria oferecer um serviço global, precisava se registrar em cada país e adaptar-se a diversas normativas, o que causava grandes atrasos. Essa mudança impulsionará o setor e trará normalização. Embora alguns afirmem que a MiCA já chega ultrapassada, é bem provável que, em alguns anos, uma segunda versão seja lançada para abranger aquelas áreas cinzentas ainda não regulamentadas, como protocolos De-Fi, NFTs puros, DAOs ou a normalização do staking e do lending.

Sem dúvida, a nova regulamentação vai dar um grande impulso para as stablecoins, especialmente para as EMoney Tokens (EMTs), que atualmente são as aplicações mais promissoras do setor. Já vemos, por exemplo, que grandes projetos dos EUA, como o Circle com sua moeda USDC e o EuroC, estão migrando para a Europa em busca da segurança jurídica oferecida aqui.

Pergunta: Você acredita que uma regulação mais rigorosa vai favorecer a adoção dos criptoativos tanto por investidores institucionais quanto pelo público em geral?

Pela minha experiência, tendo vivido a crise do setor em 2018, fica claro que a autorregulação não foi suficiente; muitas pessoas foram lesadas. Conforme o setor vai sendo regulado, a indústria começa a se consolidar. É curioso, pois o mercado cripto evoluiu de forma oposta ao que geralmente ocorre em outros setores financeiros: quando nasce um produto ou serviço, normalmente ele vem com o apoio das instituições e se expande para o varejo. No universo cripto, foi o contrário, e as instituições foram aceitando gradualmente. Mesmo assim, acredito firmemente que uma regulação adequada é essencial para que o setor cresça e se escale.

Pergunta: Suponha que eu queira me desenvolver como profissional na área de compliance, especializado em criptomoedas. Qual conselho você me daria?

É fundamental que você seja apaixonado tanto por tecnologia quanto por compliance. É preciso colocar a mão na massa: aprenda a programar um smart contract, familiarize-se com termos como API, nós, Solidity, etc. Ter conhecimentos básicos da tecnologia é indispensável. Além disso, invista em cursos sobre modelos de negócio e regulação, e seja muito flexível. Muitas vezes é necessário desaprender para poder recomeçar. É crucial dar um salto quântico para entender como o Bitcoin (BTC) funciona — que, para mim, é a base — e, a partir daí, se adaptar utilizando o conhecimento tecnológico.

Recomendo que você se inscreva em cursos, participe de eventos e busque informações online. Hoje em dia há muito mais conteúdo disponível; em 2017 era difícil encontrar pessoas para trocar experiências, e foi nesse período que surgiram os meetups e a iniciativa Blockchain Espanha, de onde muitos profissionais de destaque emergiram. Atualmente, há inúmeros programas e eventos, tanto no âmbito nacional quanto internacional. A formação contínua é a chave: você tira um mês de férias e, ao voltar, se depara com um mercado que evolui a uma velocidade incrível.

 


 

Bloco de Autor - Víctor Navarro
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Sobre o autor

Víctor Navarro
Especialista em identidade digital e comunicação

Sou Víctor Navarro, com mais de 15 anos de experiência em marketing digital e SEO. Sou apaixonado por tecnologia e como ela pode transformar o setor de identidade digital. Na Didit, uma empresa de inteligência artificial especializada em identidade, educo e explico como a IA pode melhorar processos críticos como KYC e conformidade regulatória. Meu objetivo é humanizar a internet na era da inteligência artificial, oferecendo soluções acessíveis e eficientes para as pessoas.

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Para consultas profissionais, contacte-me em victor.navarro@didit.me

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